* Tradução livre para artigo de Angus Paterson, no Beatport
The Awakenings é uma das marcas mais importantes da cena techno holandesa. Embora ela produza regularmente festas espetaculares no Gashouder, em Amsterdam, o seu verdadeiro Golias é o festival de dois dias, ao final de junho. Celebrando seu 15º aniversário em 2015, a imensidão e o espetáculo promovidos pelo Awakenings Festival ainda são impressionantes.
Se dando através dos gramados e lagos imaculados de Spaarnwoud Houtrak, logo na saída de Amsterdam, o Awakenings Festival dispõe de oito arenas de padrão elevado, com design de palco elaborado, som pegado, luzes e lasers espetaculares e atenção a todos os detalhes adjacentes.
Tudo isso se complementa com a possivelmente mais forte seleção de DJs de techno que você pode encontrar; basta qualquer fã do gênero dar uma olhadinha no cronograma das atrações ao longo dos dois dias de festival que seu queixo certamente irá cair. Em 2015, foram mais de cem artistas, passeando por todas as vertentes do estilo (além de uma pitada de house), com vários dos principais nomes tocando até duas vezes — sem deixar de mencionar a curadoria de marcas gigantescas, como Drumcode, Minus e Electric Deluxe, que montaram seus próprios palcos. E se por um lado “techno” é a palavra-chave do evento, ela certamente não faz justiça à variedade sonora proporcionada.
A cereja do bolo é o amor intenso dos holandeses pelo seu hard techno. O Awakenings foi recheado de milhares de pessoas — incrivelmente bonitas — que estiveram ali para dançar e aproveitar a experiência ao máximo; uma das plateias mais entusiasmadas que você vai encontrar no planeta.
Techno bombando por dois dias inteiros em oito arenas diferentes equivale a muita música, o que significa que é um amontoado de coisa pra se traduzir apropriadamente em palavras. Ainda assim, nós conferimos o festival para registrar as tracks que definiram a maratona do Awakenings Festival em 2015.
Sábado
Wat Dada – “Mid West” (Original Mix) [Apparel Music]
O Awakenings Festival dispôs de dois grandes palcos principais, um ao norte e o outro ao sul, cujas estruturas poderiam rivalizar com alguns dos maiores festivais de EDM do mundo. O palco norte foi baseado em suportes enormes de metal e telões de LED, e já estava recebendo as maiores atrações no começo da tarde de sábado. Luciano tocou cedo e foi seguido por Loco Dice, que manteve a energia devidamente contida no modo groovy techno. “Mid West”, do duo italiano Wat Dada, tem sido recorrente em seus sets nos últimos anos, e ilustra bem a pegada warm up de Dice no sábado.
Royksopp – “I Had This Thing” (Joris Voorn Remix) [Green]
Enquanto isso, no palco sul, Joris Voorn — nome tarimbado do Awakenings — mandava um set de duas horas mais puxado pro grave; um prelúdio de sua performance no domingo, quando comandou sua própria arena. Nessa outra ponta do festival, o palco foi tão bem desenhado quanto o norte, com uma grande formação triangular cujas pontas se projetavam na direção do público, enquanto a cabine do DJ ficava bem ao centro. Assim como Dice, Voorn seguiu uma linha mais contida, centrada em um tech house melódico, embora ele tenha desencadeado certa euforia ao lançar mão de seu remix emotivo de “I Had This Thing”.
Quem seguiu Voorn na Area C foi ninguém menos que o “rei do techno” em pessoa, Sven Väth, em sua primeira apresentação do fim de semana. De Väth, você pode geralmente esperar por um set cheio de quebras e surpresas, e essa recente produção de Gary Beck caiu como uma luva.
Danny Daze – “Ready2Go” [Ultramajic]
Enquanto metade dos palcos do Awakenings foi ao ar livre, na grama, a outra metade foi constituída por tendas não menos bem estruturadas; espaços escurecidos, apropriados para luzes e lasers. A tenda da Area A sedeou, no sábado, artistas mais voltados ao house, com Eats Everything e Julio Bashmore tocando no começo do dia.
Maya Jane Coles foi um dos pontos altos, no quesito de ir à contramão de um evento que é quase todo voltado à extremidade mais pesada do techno. O groove melódico e solto dessa track do Danny Daze, que saiu pela Ultramajic no mês passado, parece feita sob medida para DJs como Coles — embora tenho sido apenas um prelúdio para o seu final de set arrasador. Foi uma apresentação de primeira classe.
Paul Woolford – “MDMA” [Hotflush]
Voltando ao palco norte, o veterano sueco Adam Beyer assumiu os decks depois de Loco Dice, e confirmou toda a sua versatilidade. Seu set de sábado antecedeu a curadoria de sua própria arena, a Drumcode, no domingo, e foi marcado por um techno groovado e irregular. Essa track ravey de Paul Woolford acaba de sair pela Hotflush Recordings, e casou perfeitamente no mix de Beyer.
Depois de muitos DJs dos palcos principais terem desenhado o aquecimento, o italiano Joseph Capriati apareceu no palco sul às 19h, a hora certa de começar a dar uma pesada no som.
“Techno é a porta, groove é a chave” serve como uma espécie de manifesto para Capriati — que tem subido nos rankings de techno nos últimos anos —, e oferece a representação perfeita do momento que precedeu suas duas horas de som. “Locked Target”, lançada no começo deste ano, representou um dos momentos mais sombrios de um set polido e impressionante.
Timo Maas – “Kick 1 Kick 3″ (Maetrik Sexy Remix) [Bedrock]
Com tantas opções no Awakenings Festival, às vezes era difícil de saber o que fazer. Um dos espaços a céu aberto mais intimistas da extremidade sul do festival definitivamente merecia atenção, com sua pista de dança parcialmente coberta e seu palco adornado por telões.
O clima era jovial e, de alguma forma, menos intenso. Dense & Pika, Rebekah e Marcel Dettmann tocaram pela tarde, assim como Henrik Schwarz em seu modo techno.
Eric Estornel tocou sob a alcunha de Maceo Plex no domingo à noite, mas no sábado se apresentou como Maetrik, dando as boas-vindas com os grooves ameaçadores de seu remix para Timo Maas.
Naturalmente, as últimas horas do dia foram tomadas pelo aumento progressivo de energia, em sincronia com pirotecnias holandesas; lasers, chamas, fogos de artíficio, normalmente vistos em festivais como Tomorrowland e Ultra, dessa vez estavam calibrados para complementar a trilha sonora costurada pelo residente do Berghain, Len Faki. Ele realmente sabe fazer uso do “épico” quando necessário, e essa track do produtor islandês Bjarki é um bom exemplo disso.
Peace Division – “Blacklight Sleaze” (Radio Slave Dub Mix)
Foi quase impossível escolher como encerrar o dia, tendo Len Faki, Richie Hawtin e Chris Leibing como três das opções de grand finale. Para os fanáticos da Area X, entretanto, a resposta era fácil: Nina Kravitz. Durante todo o sábado, o palco foi permeado por um techno cru e propulsivo — a sequência Jeff Mills-DVS1-Dave Clarke garantiu isso —, e Kraviz encerrou com estilo.
Com faixas de luz pulsando acima do público, Kraviz levou para o espaço o que ela depois chamou de “energia massiva de rave” — e ela claramente sentia cada música junto com a plateia. Durante seus 90 minutos de techno trippy e acid, um dos pontos altos foi esse dub mix do Radio Slave para “Blacklight Seaze”, do Peace Division.
Domingo
Ben Klock – “Subzero” (Function-Regis Remix) [Ostgut Ton]
A melhor coisa sobre o fim do primeiro dia do Awakenings Festival é saber que você vai ter tudo aquilo no dia seguinte. O palco norte começou com seleções mais deep no domingo, antes da entrada de nomes como Ricardo Villalobos, Capriati e Väth.
Um live do Recondite antecedeu o nome do momento, Tale of Us, que mostraram seu talento de mixar techno com uma leve aura trance. Esse remix de anos atrás do Function-Regis, aka Sandwell District, tem aparecido em boa parte dos últimos sets do grupo, e funcionou maravilhosamente bem no domingo.
deStrict – “Market” (Einzelkind’s konstablerwache Mix) [Opium Audio]
Com faixas de luz pulsando acima do público, Kraviz levou para o espaço o que ela depois chamou de “energia massiva de rave” — e ela claramente sentia cada música junto com a plateia. Durante seus 90 minutos de techno trippy e acid, um dos pontos altos foi esse dub mix do Radio Slave para “Blacklight Seaze”, do Peace Division.
No espaço curado por Joris Voorn — a arena Joris Voorn and Friends —, o trio francês Apollonia foi uma escolha popular, equilibrando momentos classic house com um tech-house mais pesado. Esse release lançado apenas em vinil do deStrict foi um dos momentos em que eles levaram o clima mais pro deep.
Marco Bailey – “Lost Soul” [MB Elektronics]
Com o brilho do sol da tarde, os ravers que procuravam escuridão estiveram bem servidos na Area X. Nicole Moudaber — uma DJ que definitivamente prefere as luzes apagadas — apareceu para uma sessão poderosa antes da entrada de Gary Beck, estabelecendo rapidamente uma atmosfera cabeças-baixas-braços-levantados sob a tenda.
Dado o gosto de Moudaber por seleções repletas de loops, não foi surpresa nenhuma a escolha dela por “Lost Soul”, de Marco Bailey. Enquanto outros palcos estavam apenas aquecendo, Moudaber transportou o clima direto para às 04h.
Alan Fitzpatrick – “Truant” [Cocoon]
Enquanto isso, no palco sul, Adam Beyer e sua turma do Drumcode estavam responsáveis pela curadoria. Joe Mull e Paul Ritch foram responsáveis pelo warm up do local, enquanto Alan Fitzpatrick apareceu pelas 17h para um set que deixou de lado o peso em detrimento de uma vibe mais épica, que refletia bem o momento. Seu próprio hino lançado via Cocoon no ano passado encaixou perfeitamente.
Elderbrook – “How Many Times” (Andhim remix) [Black Butter Records]
A tenda que hospedou Maya Jane Coles no sábado estava agora dispondo de uma combinação de house e techno, mantendo as coisas no lado groove da força, para aqueles que precisavam dar uma respirada dos sons trovejantes que ecoavam pelo resto do festival. Enquanto Oliver Koletzki e Karotte estavam aumentando a velocidade um pouco tardiamente, o duo alemão Andhim trouxe um toque houseiro com seu remix, que refletia um clima nem tão pesado, nem tão leve.
Andrea Festa – “Art Of Afr” (Original Mix) [AF Records]
Fora a Area A, as tendas mais sombrias eram os espaços onde os sons mais intensos se proliferavam. A Electric Deluxe mimou os presentes com o tratamento especial de Rødhåd, seguido pelo projeto Collabs 3000 — uma chance rara de ver Chris Liebing e Speedy J juntos atrás das máquinas.
A enigmática Area X também ofereceu uma colaboração em particular; depois dos sets de Nicole Moudaber e Gary Beck, foi a vez de _UNSUBSCRIBE_, uma união entre Dave Clarke e Mr Jones. E se clássicos atemporais como “Set Up 707”, de Edge of Motion, tiveram seu momento, a produção de Andrea Festa, de alguns anos atrás, resumiu melhor essa parceria.
Raumakustik – “Raider” [Hottrax]
Na mesma hora, o palco da Drumcode começava a pegar fogo, do aquecimento feito pelo Maceo Plex até o final quente, que seria providenciado por Adam Beyer e Ida Engberg. Plex estava afiado, e fez um dos sets mais satisfatórios do fim de semana inteiro, com 90 minutos de techno funky irresistível, recheado de drops poderosos o suficiente para erguer milhares de punhos ao ar.
Esse som do Raumakustik, lançado há alguns meses pela sublabel da Hot Creations, a Hottrax, sintetiza bem a primeira meia hora do set de Maceo Plex, antes de ele trazer mais peso.
Cirez D – “On Off” (Original Mix) [Mouseville]
Antes de o dinamarquês Kölsch ter tido o privilégio de fechar a arena Joris Voorn & Friends, o próprio Voorn apresentou um set que trafegou por vários BPMs diferentes, em um mix de tech house pulsante — com algumas de suas tracks favoritas, como “Ringo” — e alguns momentos dramáticos, como esse clássico de Eric Prydz sob seu codinome Cirez D. Um grande momento.
Planetary Assault Systems – “Arc” [Mote Evolver]
Para muitos, o back-to-back de Ben Klock com Marcel Dettmann nos escombros da Area X representou a maneira perfeita de encerrar o festival. Se boa parte dos DJs se conteve bastante para se adequar aos seus respectivos horários, esse foi o momento em que a intensidade realmente explodiu, e Klock e Dettmann certamente não se seguraram, mantendo o BPM nas alturas durante duas horas.
Também foi uma chance de admirar a produção executiva na qual os organizadores apresentaram esmero até mesmo nos palcos menores; telões na frente, faixas de luzes piscantes percorrendo por toda a tenda e fogos de artifício disparados por detrás da plateia desenharam o momento em que foi tocada essa bomba do Luke Slater.
Usando um chapéu casual enquanto fechava a arena Joris Voorn & Friends, o produtor dinamarquês vencedor de Grammy Rune Reilly Kölsch atingiu o público com hinos brilhantes e melódicos de seu álbum “1977”, de 2013; começou com seu peculiar single “Goldfisch” e deu suporte com algumas faixas de seu novo LP, “1983”, como a monstruosa “DerDieDas”. O ponto alto foi sua última track, a matadora “Loreley”, que soou realmente grande demais para ser medida em palavras.
Sven Väth – “Ritual Of Life” (Adam Port 108 Mix) [Cocoon]
A última pernada de um festival gigante holandês normalmente significa uma overdose de espetáculo, e o Awakenings não desapontou nesse ponto. Os dois palcos principais explodiram: lasers iluminando as pessoas, chamas e fogos de artifício sendo disparados no ar. Enquanto Beyer e Engber fecharam com pegada a arena Drumcode, o “Papa” Sven fez todos se sentirem em casa no palco norte. O remix de Adam Port para seu próprio clássico dos anos 1990 foi uma das últimas músicas do festival — e sim, foi tão explosiva quanto qualquer uma das pirotecnias.