Nas últimas semanas, uma movimentação de um grupo de artistas contra o Sónar Festival tem acontecido movimentando muito os bastidores do evento espanhol.
A Superstruct Entertainment é a empresa que organiza o Sónar desde 2018, além de mais de 80 festivais ao redor do mundo. Desde então, a Providence Equity Partners era o grupo com maior investimento na Superstruct. No final do ano passado, a empresa vendeu sua participação para um consórcio formado pela KKR e outros investidores.
A KKR é acusada de investir e lucrar com o ataque israelense na Palestina, apoiando financeiramente empresas de produção bélica e de construção de assentamentos israelenses no território palestino. O Boiler Room também é uma marca pertencente ao Superstruct Entertainment e se posicionou contra as movimentações da KKR ao ser adquirido em março deste ano.
As campanhas de boicote da classe artística aos eventos que recebem investimentos da KKR têm sido constantes nos mais diversos segmentos, agora o foco está no Sónar, que acontece essa semana entre os dias 12 e 14 em Barcelona. Em maio, dezenas de DJs assinaram uma carta condenando as ações da empresa.
‘’O Sónar é um dos 80 eventos de propriedade da Superstruct Entertainment, que por sua vez agora é de propriedade majoritária da gigante de private equity KKR, que é profundamente cúmplice do genocídio de Israel em Gaza. (…) Apoiamos as demandas que a maior coalizão palestina que lidera o movimento global de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) fez a todos os eventos de propriedade da Superstruct’’, diz o comunicado.
As demandas citadas são:
- Distanciar-se dos investimentos cúmplices da KKR
- Adotar políticas éticas de programação e parceria
- Respeite as diretrizes do BDS
- Envolva-se com artistas em todos os itens acima
A carta também diz que o Sónar é patrocinado pelo McDonald’s e Coca-Cola, empresas que são alvo do BDS por suposto envolvimento direto no genocídio contra o povo palestino. Após a forte pressão pelo envolvimento com as marcas, o Sónar os removeu do quadro de patrocinadores desta edição.
Cerca de 30 artistas cancelaram os shows no Sónar que acontece neste final de semana devido a toda a polêmica, como protesto contra a KKR e foram substituídos no line up.
Para se defender, o Sónar, por sua vez, publicou um FAQ em seu site oficial respondendo algumas dúvidas do público sobre sua relação com a KKR que tem sido atualizado conforme novos questionamentos vão surgindo.
A organização do festival condenou o genocídio em primeiro lugar e afirmou que nem um centavo do Sónar vai para a KKR.
‘’Em nenhum momento enviamos – nem enviaremos – um único euro para a KKR. Podemos garantir-lhe que, depois de cobrir todos os custos da Música Avançada e do próprio festival (salários, artistas, produção, comunicação, custos de organização, etc.), todos os lucros são reinvestidos, na sua totalidade, em futuras edições do Sónar. A posição publicamente declarada da Superstruct é clara sobre isso: “Todas as receitas e lucros dos eventos e festivais da Superstruct permanecem inteiramente dentro de nossos negócios e vão para o desenvolvimento e realização contínuos de nossos festivais em todo o mundo”.
Segundo a publicação, a KKR atua somente na parte administrativa da Superstruct, sem ligação econômica com a produtora.
Além disso, reafirmam a autonomia da equipe na curadoria das atrações e que ainda há remanescentes do time criador há 32 anos. Para finalizar, pontuaram que serão feitas doações para ONGs que trabalham ajudando as vítimas do ataque à Palestina e que haverá um espaço para debate acerca da situação atual. ‘
’Na sexta-feira à tarde, quando abrirmos, vamos converter o primeiro espaço do SonarÀgora em um espaço de reflexão, escuta e ação sobre o papel da cultura no atual contexto global. Em um cenário marcado por consolidação financeira, censura generalizada, instabilidade estrutural e conflitos geopolíticos, estamos convocando artistas, pensadores, instituições e atores culturais a participar de um debate significativo e construtivo.’’
Leia o FAQ aqui.
Alguns artistas se manifestaram publicamente sobre o caso, como é o caso da DJ palestina Sama AbdulHadi em seu Instagram. Mesmo sendo obviamente contra todas as movimentações da KKR, a DJ havia mantido sua apresentação no festival e disse estar em contato com o BDS e organizadores e fundadores do Sónar. Entretanto, na tarde de hoje, 10, a artista voltou atrás em sua decisão e anunciou que não se apresentará mais na sexta-feira. Em pronunciamento no Instagram (veja aqui), a DJ afirma que
‘’eles largaram o McDonald’s e a Coca-Cola como patrocinadores, e concordaram com uma série de outras exigências. No entanto, a questão principal não foi resolvida — o envolvimento da KKR. (…) Não posso e não vou ser associada a festivais ou instituições apoiados pela KKR, o que significa que não vou me apresentar no Festival Sónar esta sexta-feira. (…) Ou você é a favor da liberdade e da justiça, ou é conivente de genocídio.’’
O lendário Richie Hawtin também se posicionou sobre o imbróglio. Em vídeo, ele explicou inicialmente que não fará mais sua apresentação live como Plastikman e fará um DJ set especial, pelo fato do show não ter ficado pronto a tempo. Ao falar sobre a polêmica, se mostrou contra os investimentos da KKR em empresas bélicas. Confirmado para o Sónar, Monegros e Awakenings, agora todos pertencentes à KKR, ele afirma mantém seu slot no line up em respeito ao público e às marcas que apoiaram sua carreira nos últimos 30 anos, mas a partir de agora diz que fará uma análise criteriosa nos bastidores das organizações que estão o contratando.
O timetable do Sónar by Day, Sónar by Night e Sónar+D já está divulgado oficialmente no site oficial do festival.
Por Adriano Canestri